sexta-feira, 17 de agosto de 2012

PACOTE DE INFRAESTRUTURA PODE PRECISAR DE POUPANÇA EXTERNA



O Programa de Investimento em Logística lançado pela presidente Dilma Roussef na última quarta-feira pode precisar de recursos externos e de uma estrutura financeira previamente desenhada. "Como são projetos de longa duração, é evidente uma parte terá que vir de recursos externos, seja por meio de instrumentos de dívida ou de ações", disse o diretor-presidente da Cetip, Luiz Fernando Fleury, sobre o expressivo volume de recursos do pacote.
De acordo com informação oficial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a instituição federal financiará até 80% de cada projeto. E a diferença vai depender de cada companhia, que poderá utilizar capital próprio ou fontes alternativas de capital via investidores nacionais ou estrangeiros.
Na avaliação do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a estrutura financeira para habilitar as companhias a participarem dos projetos pode levar pelo menos seis meses. "As novas empresas deverão apresentar uma estrutura de capital para os contratos, com garantias e performance ao BNDES, que financiará entre 65% e 80% dos projetos", disse.
Gonçalves argumenta que as empreiteiras e construtoras não devem informar novas dívidas contraídas com o BNDES em seus balanços. "Irá se criar uma nova empresa para fazer isso, como um consórcio que disputará a licitação do projeto de rodovias ou ferrovias", exemplificou o economista.
Ante a realidade da crise internacional, o economista diz que ainda é cedo para avaliar se as companhias candidatas aos projetos terão dificuldade para conseguir recursos externos. "Vai depender do modelo que será definido, mas a estrutura financeira será complicada e demorada. Já tivemos projetos financeiros que demandaram dois anos para ficarem prontos", afirmou Gonçalves.
Para o presidente interino da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Otávio Yazbec, a emissão de debêntures de infraestrutura também poderá contribuir com uma parte desse financiamento, mas não soube precisar qual será esse volume. "O mercado financeiro está se preparando para fazer sua parte", diz Otávio Yazbec, depois de fazer um pronunciamento sobre o lançamento da plataforma eletrônica de negociação de títulos de renda fixa da Cetip, ontem, em São Paulo.
Criadas no ano passado pela Lei nº 12.431 e regulamentadas em 2012, as debêntures de infraestrutura são títulos privados de dívida que isentam os investidores do imposto de renda (IR) para atrair recursos para obras e projetos de infraestrutura.
Em relatório recente divulgado pela agência de classificação de risco Moody's, a demanda por debêntures de infraestrutura por fundos de pensão locais e investidores privados poderá alcançar R$ 124 bilhões até 2014.
Plataforma
Para o diretor-presidente da Cetip, sua companhia está preparada tecnologicamente para absorver o volume de negociação desses novos papéis. "Não apenas R$ 133 bilhões, mas R$ 400 bilhões ou R$ 1 trilhão", disse Fleury ao DCI. Ele referia-se à capacidade ilimitada da plataforma eletrônica de negociação de títulos de renda fixa, a Cetip Trader, lançada ontem.
Segundo o gerente da Cetip Trader, Ricardo Vit, a plataforma já está ativa e ficará em testes por trinta dias. "O mercado fará um treinamento por quatro semanas para verificar se os testes são bem sucedidos. A data para que os participantes possam migrar do CetipNet para a Cetip Trader é 17 de setembro", detalhou Vit.
A data final para o início das operações ainda pode mudar pois depende da aprovação da CVM. "Conversamos com o regulador e acredito que não haverá atrasos. A CVM está avaliando o manual do Cetip Trader", condicionou o diretor-comercial da Cetip, Carlos Ratto.
Quanto à procura pela plataforma, Ratto informou que 30 instituições financeiras já se cadastraram para utilizar a negociação eletrônica, voltada inicialmente apenas para investidores institucionais. "A participação do varejo é feita via fundos. A expansão para o mercado de varejo virá quando o mercado de atacado estiver acabado", disse.
Como forma de fomentar a utilização da tecnologia, ele informou que haverá um período de isenção de tarifas ao mercado. "Haverá uma redução dos custos operacionais, e vamos deixar claro aos participantes quais serão os preços no futuro, afinal a companhia visa a resultados", avisou.
Sobre a plataforma, o presidente Fleury disse que não está preocupado com a concorrência [BM&FBovespa]. "Estamos preocupados em atender bem nossos clientes", destacou Fleury, sem dar expectativas de volume.
Em entrevista anterior concedida ao DCI, Ratto havia informado que a plataforma deve estimular a liquidez do mercado secundário de títulos privados. "Não vamos substituir o telefone, mas vamos trazer o mercado de voz para o eletrônico", disse, referindo-se aos ganhos de agilidade.

Fonte: Diário do Comércio e Indústria

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