O responsável pelo
banco central da Itália, Giorgio Trebeschi, afirmou ontem que o crescimento
econômico do Brasil nos últimos dois anos ficou muito abaixo do potencial médio,
de 4,5%, observado entre 2004 a 2010. "Agora o potencial de avanço do PIB
[Produto Interno Bruto] do País está entre 3,5% e 4%", disse.
Segundo ele, a
explicação é que o País foi beneficiado pela alta dos preços das commodities
entre 2004 e 2010, o que favoreceu um crescimento econômico maior. "Hoje, é
difícil pensar que tenha outro ciclo assim. E um dos fatores para essa
expectativa é a crise internacional", explicou ao DCI, após participar do evento
realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de
São Paulo (FecomércioSP) que reuniu representantes da Alemanha, França e
Finlândia, para debater a crise econômica na Europa e seus impactos na economia
mundial.
Outro fator
negativo para a economia brasileira na opinião dele é a redução da demanda
interna. "Claramente em período de commodities em alta, existe uma demanda
interna aquecida, sem bater no limite do déficit de conta corrente. Contudo,
atualmente, a demanda interna também não vai ter o espaço que tinha no passado,
como o comércio de commodities", apontou o representante do país cujo
primeiro-ministro é Mario Monti. "Além disso, tem a questão do crédito, cujo
crescimento tende a ser menor no Brasil."
Por outro lado, o
economista Paulo Rabello de Castro, presidente do Conselho Superior de Economia
da FecomércioSP, afirmou que o Brasil se beneficiou da crise internacional. "A
sorte do Brasil beira a indecência", diz ele, ao comentar que o País aproveita
um mercado internacional com commodities agrícolas e minerais muito valorizadas.
"Mas não estamos aproveitando nossa sorte e, com isso, deixamos de contribuir
para a recuperação da economia global."
Bom
exemplo
Durante o evento,
Rabello de Castro afirmou que a história brasileira com relação à estabilização
econômica pode servir como exemplo para resolver a situação da União Europeia.
"A impressão nos anos 80 era de que o País acabaria, mas cruzamos a ponte para
uma moeda em que confiamos", diz o economista, ao se referir à entrada do Plano
Real.
Questionados pelo
DCI, a maioria dos representantes de países europeus que estavam no evento
avaliou que a estabilização brasileira é de fato um bom exemplo a ser seguido.
"Podemos, sim, aprender com a experiência brasileira. Estamos em um mundo
globalizado e cada país pode aprender com o outro. Não tem outra solução",
afirmou o cônsul-geral-adjunto da Alemanha, Rainer Müller.
Jan Jarne, cônsul
da Finlândia também comentou que "sempre se aprende com bons exemplos". "A
Europa tem que aprender com o Brasil a desalavancar financeiramente sua dívida.
Tem que se procurar uma solução negociada", comentou.
Já o cônsul
econômico da França, Stéphane Mousset, acredita que, como exemplo, a história
brasileira pode ser útil, mas não como modelo econômico. "Temos muito que
aprender, na verdade, com a política fiscal do Brasil", observa.
Do lado oposto,
segundo o cônsul da Finlândia, o Brasil pode aproveitar o exemplo do comércio
dos países nórdicos para elevar a integração no Mercosul. "Um dos motivos para a
Finlândia estar bem, mesmo fazendo parte da zona do euro, é que existe um forte
comércio com a Suécia e com a Noruega, tendo, estes países, moedas diferentes.
Formamos um bloco informal."
Para ele, "as
semelhanças entre o Mercosul e o 'bloco' dos países nórdicos são a cultura e por
serem vizinhos" e justamente por isso o Mercosul deveria "funcionar melhor". "O
consenso deveria ser de ter um bloco único e não um bloco por conveniência.
Hoje, cada um defende o seu lado da indústria. É o caso evidente entre Brasil e
Argentina", aponta.
Crise
Um consenso criado
entre os participantes do evento da Fecomércio é de que não há razões para a
ruptura da zona do euro.
"Do ponto de vista
macroeconômico, deixar o euro seria a solução para muitas economias, mas, para a
microeconomia, isto é muito complicado", comentou o ex-diretor do BC brasileiro,
Carlos Thadeu de Freitas Gomes. E acrescentou ainda dizendo que se isso
acontecesse, todos os contratos feitos em euro teriam que ser reavaliados, o que
é inviável.
"Em boa parte, a
solução para a Europa também é política. Tem união de 27 países que aderiram a
uma única moeda, mas há uma grande diversidade de opinião pública", disse o
cônsul da Finlândia do DCI.
Na opinião do
cônsul da Alemanha, apesar de não existir uma solução rápida, com a proposta de
um pacto de estabilidade, que deve ser concluída no ano que vem, ele acredita
que a União Europeia deve ser bastante fortalecida no longo prazo.
Fonte: Diário do Comércio e Indústri
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