sexta-feira, 17 de agosto de 2012

BANCO CENTRAL ITALIANO CRÊ EM CRESCIMENTO MENOR DO BRASIL



O responsável pelo banco central da Itália, Giorgio Trebeschi, afirmou ontem que o crescimento econômico do Brasil nos últimos dois anos ficou muito abaixo do potencial médio, de 4,5%, observado entre 2004 a 2010. "Agora o potencial de avanço do PIB [Produto Interno Bruto] do País está entre 3,5% e 4%", disse.
Segundo ele, a explicação é que o País foi beneficiado pela alta dos preços das commodities entre 2004 e 2010, o que favoreceu um crescimento econômico maior. "Hoje, é difícil pensar que tenha outro ciclo assim. E um dos fatores para essa expectativa é a crise internacional", explicou ao DCI, após participar do evento realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomércioSP) que reuniu representantes da Alemanha, França e Finlândia, para debater a crise econômica na Europa e seus impactos na economia mundial.
Outro fator negativo para a economia brasileira na opinião dele é a redução da demanda interna. "Claramente em período de commodities em alta, existe uma demanda interna aquecida, sem bater no limite do déficit de conta corrente. Contudo, atualmente, a demanda interna também não vai ter o espaço que tinha no passado, como o comércio de commodities", apontou o representante do país cujo primeiro-ministro é Mario Monti. "Além disso, tem a questão do crédito, cujo crescimento tende a ser menor no Brasil."
Por outro lado, o economista Paulo Rabello de Castro, presidente do Conselho Superior de Economia da FecomércioSP, afirmou que o Brasil se beneficiou da crise internacional. "A sorte do Brasil beira a indecência", diz ele, ao comentar que o País aproveita um mercado internacional com commodities agrícolas e minerais muito valorizadas. "Mas não estamos aproveitando nossa sorte e, com isso, deixamos de contribuir para a recuperação da economia global."
Bom exemplo
Durante o evento, Rabello de Castro afirmou que a história brasileira com relação à estabilização econômica pode servir como exemplo para resolver a situação da União Europeia. "A impressão nos anos 80 era de que o País acabaria, mas cruzamos a ponte para uma moeda em que confiamos", diz o economista, ao se referir à entrada do Plano Real.
Questionados pelo DCI, a maioria dos representantes de países europeus que estavam no evento avaliou que a estabilização brasileira é de fato um bom exemplo a ser seguido. "Podemos, sim, aprender com a experiência brasileira. Estamos em um mundo globalizado e cada país pode aprender com o outro. Não tem outra solução", afirmou o cônsul-geral-adjunto da Alemanha, Rainer Müller.
Jan Jarne, cônsul da Finlândia também comentou que "sempre se aprende com bons exemplos". "A Europa tem que aprender com o Brasil a desalavancar financeiramente sua dívida. Tem que se procurar uma solução negociada", comentou.
Já o cônsul econômico da França, Stéphane Mousset, acredita que, como exemplo, a história brasileira pode ser útil, mas não como modelo econômico. "Temos muito que aprender, na verdade, com a política fiscal do Brasil", observa.
Do lado oposto, segundo o cônsul da Finlândia, o Brasil pode aproveitar o exemplo do comércio dos países nórdicos para elevar a integração no Mercosul. "Um dos motivos para a Finlândia estar bem, mesmo fazendo parte da zona do euro, é que existe um forte comércio com a Suécia e com a Noruega, tendo, estes países, moedas diferentes. Formamos um bloco informal."
Para ele, "as semelhanças entre o Mercosul e o 'bloco' dos países nórdicos são a cultura e por serem vizinhos" e justamente por isso o Mercosul deveria "funcionar melhor". "O consenso deveria ser de ter um bloco único e não um bloco por conveniência. Hoje, cada um defende o seu lado da indústria. É o caso evidente entre Brasil e Argentina", aponta.
Crise
Um consenso criado entre os participantes do evento da Fecomércio é de que não há razões para a ruptura da zona do euro.
"Do ponto de vista macroeconômico, deixar o euro seria a solução para muitas economias, mas, para a microeconomia, isto é muito complicado", comentou o ex-diretor do BC brasileiro, Carlos Thadeu de Freitas Gomes. E acrescentou ainda dizendo que se isso acontecesse, todos os contratos feitos em euro teriam que ser reavaliados, o que é inviável.
"Em boa parte, a solução para a Europa também é política. Tem união de 27 países que aderiram a uma única moeda, mas há uma grande diversidade de opinião pública", disse o cônsul da Finlândia do DCI.
Na opinião do cônsul da Alemanha, apesar de não existir uma solução rápida, com a proposta de um pacto de estabilidade, que deve ser concluída no ano que vem, ele acredita que a União Europeia deve ser bastante fortalecida no longo prazo.

Fonte: Diário do Comércio e Indústri

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