quinta-feira, 21 de maio de 2015

CADÊ O EMPREGO QUE ESTARIA AQUI?

Autor(a): PAULO WERNECK
Fiscal aduaneiro, escritor, professor

Uma pergunta que se pode fazer, em relação ao Custo Brasil, é a quanto monta o prejuízo do exportador ou do importador, pergunta pertinente, mas nem sempre fácil de responder.
Se um navio perde tempo para atracar, seja por falta de berços, seja porque devido à falta de fiscal disponível da Anvisa não obteve o "livre trânsito" em tempo, ou por qualquer motivo que seja, esse custo adicional do transportador - algo como 30 a 50 mil dólares por dia - será repassado aos exportadores ou importadores por meio de acréscimos ao frete.
Esse custo adicional onera as importações e dificulta as exportações.
Os preços de importação mais elevados aumentam, por sua vez, o custo de vida, encarecendo também os insumos usados na produção de exportação.
A competição internacional limita os preços de exportação, e assim o exportador ou reduz o seu lucro, se tal for possível, ou perde a venda.
De uma forma ou de outra, as empresas exportadoras crescem menos e o Brasil continua participando na faixa do 1% do comércio internacional, em vez dos 3%, no mínimo, a que deveria almejar, em face da sua população e do tamanho do seu território.
Acabamos por ser uma potência na exportação de produtos agropecuários e minérios, cargas pesadas que deixam parcela grande do que poderia ser lucro no transporte ineficiente.
De uma forma ou de outra, perdemos empregos.
O negócio agropecuário praticamente se esgota na exportação de produtos em bruto. Soja e não margarina, óleo, farinha. Porco e não presunto, linguiça, carré. Carne e não picanha, maminha, mignon. Os empregos na indústria da transformação não existem, enquanto isso importamos presunto de parma, queijos franceses e italianos.
A indústria, com tudo isso e mais um sistema tributário nefasto, perde oportunidades de negócio e praticamente se limita, salvo exceções, a exportar para os nossos vizinhos. Por exemplo, os tributos sobre a folha de pagamento são exportados, e os produtos importados não sofrem essa tributação.
Os prejuízos pelo singelo atraso da atracação de um navio não afetam aquele importador ou exportador específico, mas se espalham pela sociedade, entravando o nosso desenvolvimento.
Não é apenas um atraso na atracação, mas hipertrofia do transporte rodoviário, sistema tributário inadequado, excesso de autoridades apitando o comércio exterior Até mesmo a crítica política aos financiamentos à exportação de serviços!
Cadê o emprego que estaria aqui? O Custo Brasil comeu

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