segunda-feira, 5 de agosto de 2013

SEM PRODUTIVIDADE, TENDÊNCIA É DE ESTAGNAÇÃO DA ECONOMIA


Especialistas avaliam que há uma tendência de estagnação ou baixo crescimento da economia devido à desaceleração da produtividade, principalmente em setores que puxaram essa variável nos últimos anos.
De acordo com o professor do Insper, Marcos Lisboa, a produtividade avançou 1,3% entre 2003 e 2010 e "de lá para cá vem caindo bastante". "O que a gente observa é que teve uma tendência de aumento da produtividade em alguns setores na década passada. Mas desde os últimos anos, 2009 a 2010, essa tendência vem arrefecendo e crescendo a taxas menores em agricultura e no setor financeiro", afirmou ao DCI, após participar de seminário sobre o tema realizado pelo Centro de Políticas Públicas (CPP) da instituição de ensino.
Ainda segundo o professor da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, José Alexandre Scheinkman, a Produtividade Total dos Fatores (PTF) - que mede a eficiência agregada da economia com base em fatores como capital e trabalho que se transformam em produção - ficou praticamente estagnada no Brasil entre 1989 e 2010. A importância disso, conforme o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Regis Bonelli, é que para cada ponto percentual de aumento da PTF, o Produto Interno Bruto (PIB) sobe 1%. "Entre 1992 a 2002, a PTF subiu 0,9% ao ano, enquanto que o PIB cresceu 2,9%. Entre 2002 a 2012, a primeira teve alta de 1,4% e a economia, de 3,5%."
"Períodos de estagnação são caracterizados pela queda na produtividade", ressaltou o também professor da FGV, Pedro Ferreira, ao se referir ao cenário econômico atual. De acordo com ele, em média, "50% da produtividade explica o crescimento do PIB" apresentado nos últimos anos, tanto no Brasil quanto em outros países.
Outro docente da FGV, o economista Samuel Pessoa, comentou que não é a primeira vez que o Brasil passa por essa situação de estagnação da economia. "O problema é que foram tomadas medidas que afetam a produtividade como a alteração das regras de câmbio, tolerância com a inflação, expansão do papel do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], uso forçado dos bancos públicos para diminuir os spreads, entre outros", aponta.
A crítica ao papel do BNDES foi, inclusive, um dos focos dos especialistas. Na visão de Scheinkman, o BNDES não é desnecessário ao País, a questão é que ele "precisa ter uma disciplina maior, vendo os custos e não sós os benefícios e entender o que ele pode fazer" para mostrar onde deve se focar com o objetivo de aumentar a produtividade.
Outra crítica do professor da Universidade de Princeton é que há uma grande quantidade de pequenas empresas que atuam informalmente e que prejudicam a produção. "Essa situação é resultado da regulação que o Brasil tem. Na construção civil, por exemplo, é muito difícil construir legalmente, principalmente em São Paulo ou Rio, e mais ainda se for reformar. Tem que fazer de maneira escondida através de uma firma informal. Nós precisamos ter um sistema que ajude, naturalmente, as empresas boas se tornarem grandes", argumenta.
Agronegócio
O setor que mais compensou a produtividade do País, segundo os professores e especialistas, foi o agronegócio. Lisboa informou que nos últimos 30 anos, a produção do setor cresceu 300%, favorecido pela abertura comercial, que força a empresa ser mais competitiva e com isso investir em tecnologia, além de ter uma agência pública eficiente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O sócio diretor da Plataforma Agro, Marcos Jank, outro fator que também colaborou para o aumento da produtividade do agronegócio foi a migração de pequenos produtores especializados do Sul para o Centro-Oeste.
Para o consultor e especialista em finanças públicas, Raul Velloso, "foi um milagre" o agronegócio ter apresentado esse aumento de eficiência, sendo que o setor depende da infraestrutura, que está precária. "O Ministério dos Transportes está querendo construir rodovias, mas nem discutiram com o agronegócio quais seriam importantes para o setor."
"Precisamos, na verdade, entender melhor porque algumas políticas são bem-sucedidas e outras não. O agronegócio cresceu sem proteção [no comércio exterior]. E a indústria teve uma política que não foi bem sucedida. Tem que acompanhar e medir melhor as políticas aplicadas no desenvolvimento não teve sucesso", disse Lisboa para o DCI, ao apontar um método que ajudaria elevar a produtividade.

Fonte: Diário do Comércio e Indústria

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