O novo regime
automotivo, o Inovar-Auto, anunciado ontem pelo Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC), eliminou a exigência de 65% de conteúdo
local para as montadoras instaladas no País não pagarem aumento de 30 pontos
percentuais do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). O novo cálculo
para obtenção do resultado do índice de nacionalização, que terá como base as
notas fiscais de compras de autopeças realizadas no Brasil e nos demais países
do Mercado Comum do Sul (Mercosul), deixou dúvidas inclusive dentro da própria
indústria. O regime anterior e o atual trouxeram apenas uma certeza, a de que
tanto montadoras quanto fornecedores de autopeças terão que investir em
tecnologia para continuar vivas.
"Os dois lados da
indústria automotiva estavam acomodados em termos de inovação tecnológica. O
governo mandou o recado de que o Brasil precisa investir em pesquisa e
desenvolvimento no médio e longo prazo para não virarmos apenas um galpão de
fábrica", afirma o consultor automotivo Homero Fischer. Ele explica que o novo
regime praticamente não mudará a rotina das montadoras que cumprirem as
exigências impostas. No entanto, fornecedores nacionais que não investirem em
tecnologia sofrerão com ou sem o regime.
Isso porque, de
acordo com Fischer, apesar de a indústria automotiva brasileira ser uma das
maiores do mundo, ainda dependemos amplamente de tecnologia estrangeira, o que
custa muito caro aos cofres de empresas nacionais. "Nessa história, só vai
ganhar quem correr atrás do prejuízo e investir pesado", diz Fischer.
De acordo com o
texto do novo regime automotivo, as montadoras terão que comprovar a compra de
autopeças fabricadas no Brasil e no Mercosul através de notas fiscais. No
entanto, segundo Fischer, apesar da fiscalização brasileira, fica difícil
determinar se o País terá condições de comprovar se todas essas notas são
provenientes de empresas da região. Além disso, ele destaca que as montadoras
continuarão a comprar de fornecedores que oferecerem os melhores custos e
benefícios. "Qualquer companhia vai querer o negócio mais barato, a não ser que
o governo as obrigue a comprar localmente", detalha Fischer.
A análise do
consultor é confirmada pelo diretor de Compras da Ford do Brasil, João Pimentel.
"Não estamos preparados para o aumento dos custos que virá com a exigência de
conteúdo local, pois muitas peças compradas aqui são mais caras que as
importadas. Vamos, sim, localizar a produção quando for mais barato, mas se
precisarmos importar e tivermos oportunidade, também o faremos", afirmou o
executivo.
De acordo com o
diretor de Compras da General Motors para América do Sul, Orlando Cicerone, o
Brasil ainda precisa trabalhar a sua base de fornecedores. "A intenção da GM é
sempre de localizar a produção, trazendo fornecedores para perto. Porém, a
cadeia de autopeças ainda é deficiente em alguns segmentos, o que muitas vezes
nos obriga a importar", diz o executivo.
Para o diretor de
Compras da Ford, as montadoras terão que se preparar não só para o novo cenário
que está por vir. "O novo regime dará tempo de nos protegermos. Depois que esse
período acabar, o problema da competitividade ainda continuará no País, se nada
for feito", diz Pimentel. O executivo ressalta que, hoje, poucos fornecedores no
Brasil têm tecnologia avançada na fabricação de autopeças e esse problema é
maior entre as empresas que não possuem plataformas globais. "A companhia que
não investir em inovação vai ficar para trás", calcula.
Uma das metas
opcionais para elevar o crédito presumido das montadoras dentro do Inovar-Auto é
o aumento da segurança veicular, o que vai demandar de montadoras a aplicação de
novos dispositivos. No entanto, de acordo com o diretor de Compras da Magneti
Marelli, Franco Nullo, hoje o Brasil praticamente não possui uma plataforma de
fabricação de componentes de segurança. "Essas peças são amplamente importadas,
e eu não saberia dizer se algum dia haverá esse tipo de produção no País", disse
o executivo.
Metas
exigidas
De acordo com o
presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
(Anfavea), Cledorvino Belini, atingir as metas do Inovar-Auto será um grande
desafio para o setor. Ainda assim, ele acredita que as empresas têm toda a
capacidade de cumprir essas exigências. "Os fabricantes de autopeças terão o
grande desafio de acompanhar a evolução do setor e é obrigação das montadoras
dar suporte", afirmou Belini em coletiva de imprensa, em São Paulo.
Ele afirmou ainda
que os investimentos da cadeia automotiva até 2015, que estavam previstos em
cerca de R$ 44 bilhões, podem subir para R$ 60 bilhões com a implementação das
novas regras para o setor, além da chegada de novas montadoras ao País.
As principais
regras do novo regime automotivo incluem a realização de seis das doze etapas
fabris da produção em solo nacional, a exigência de eficiência energética dos
produtos, ou seja, os carros terão que economizar cerca de 13,6% de combustível
a mais em relação à média atual, e todas as montadoras terão que investir, até
2017, de 0,5% a 1% do faturamento bruto em pesquisa e desenvolvimento, além de
realizar aportes em engenharia automobilística.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria
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