sexta-feira, 5 de outubro de 2012

BRECHAS FACILITAM AQUISIÇÃO DE TERRAS POR ESTRANGEIROS NO PAÍS



Com ajuda de empresários brasileiros, investidores de outros países driblam as restrições da União à compra de terras no Brasil. O projeto de lei que defende a derrubada dessas limitações, em tramitação no Congresso Nacional, é criticado por deputados que esperam apoio - com veto - da presidente Dilma Rousseff.
Uma empresa estrangeira que crie, em parceria de um sócio brasileiro, uma holding e que, a partir do grupo, sedie um braço de negócios no País, pode investir em propriedades rurais, segundo interpretações do Parecer 1/2008 da Advocacia Geral da União (AGU), que se refere à Lei 5.709/1971.
Para o corretor de imóveis rurais, Silvio Rosa de Souza, de Franca (SP), a venda de terras a estrangeiros "não é proibida desde que envolva um sócio brasileiro". Ele observa que as transações se concentram na região conhecida por "Mapito" (Maranhão, Piauí, Tocantins e parte da Bahia), considerada a nova fronteira agrícola.
"Terras que eram baratinhas já estão com preços de Mato Grosso por lá", diz Souza. Os chineses são a maior demanda, segundo o corretor. O perfil dos interessados é "exigente". "Só compram se têm certeza de que dá retorno financeiro. Não fecham negócio a torto e a direito, os estrangeiros."
Congresso Nacional
A discussão em torno da venda de terras a estrangeiros opõe os Poderes Executivo e Legislativo. Um projeto de lei que defende a liberação desses negócios tramita no Congresso Nacional. E a oposição afirma que o governo vetará o documento - caso este passe ileso pelas comissões parlamentares e, no fim do processo, pela AGU.
"Estamos esperando um momento oportuno, em que Dilma aja favoravelmente às restrições", diz o assessor parlamentar do deputado Beto Faro (PT-PA), Gerson Teixeira, que integra o núcleo de agropecuária do partido. O projeto de lei elaborado pelos petistas, que ia contra a liberação das terras, foi derrubado pelo atual.
Há uma semana, o Diário Oficial da União publicava uma portaria que, aparentemente, reforça os limites às transações envolvendo o campo brasileiro e capital externo - "algo puramente operacional, uma medida tardia, para que se cumpra a lei de 1971", nas palavras de Teixeira, que já foi presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra).
O assessor parlamentar destaca que a lei, o parecer e o projeto que defendem a manutenção das restrições, não visam a proibir a entrada de investimentos estrangeiros no agronegócio nacional. Mas, sim, tratá-los de acordo com "suas interfaces na soberania nacional, na segurança alimentar e na preservação ambiental".
Projetos estrangeiros interessados em áreas com mais de cem módulos fiscais, por exemplo, deveriam passar pelo juízo de poderes públicos (inclusive a Presidência da República) antes de serem aprovados - assim defende o projeto de lei de Faro.
Ruralistas, Casa Civil
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) lidera a ofensiva para vencer as resistências do governo federal e liberar a venda de terras a estrangeiros - operação que já envolveu cerca de 4,5 milhões de hectares no Brasil.
"Vamos tentar construir o entendimento", havia dito ao DCI, em agosto, o presidente do grupo ruralista, deputado Homero Pereira (PSD-TO). Naquele mês, o parlamentar reuniu-se com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, para articular apoio ao projeto de oposição.
Enquanto a AGU se posiciona alheiamente à discussão, declarando-se um órgão técnico, a Casa Civil encabeça a continuidade das discussões.
A derrota governista nas votações em torno do Código Florestal, ainda neste ano, tornou-se um entrave político para um consenso sobre o tema atual, segundo Pereira. "Vamos tentar superar essa questão e discutir o projeto", afirmara o representante, que defende ser possível conciliar interesses internos e investimentos estrangeiros.

Fonte: Diário do Comércio e Indústria

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