A principal bandeira levantada pela atual gestão da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), presidida pelo executivo da General Motors, Luiz Moan, é o programa de incentivos às exportações, o chamado Exportar-Auto. No entanto, a recuperação verificada em 2013 foi interrompida pela crise que se agrava na Argentina, destino atual de quase 90% das vendas externas de carros brasileiros. Neste ano, as exportações de veículos de passeio devem cair 13% - sobre uma base já tímida - e a queda pode ser ainda pior, caso a instabilidade da economia argentina piore.
"A retração da economia argentina irá prejudicar de forma significativa as exportações brasileiras. O país vizinho é destino de dois terços dos carros exportados pelo Brasil", afirma o analista do setor automotivo da Tendências Consultoria, Rodrigo Baggi.
Segundo estudo da empresa, obtido com exclusividade pelo DCI, a projeção de queda das exportações brasileiras de veículos (que incluem carros, caminhões e ônibus) passou de 2% para 12% (em volumes) neste ano. Em valores, o declínio deve atingir 10,2% na mesma base de comparação. Com isso, a produção nacional também deve ser prejudicada. "Se o cenário observado no primeiro trimestre deste ano persistir, a produção também vai cair", ressalta Baggi.
Para o presidente da Jato Dynamics Brasil, Gerardo San Román, o futuro das exportações brasileiras é incerto. "O primeiro quadrimestre ainda terá forte influência dos estoques residuais das montadoras. Ainda é cedo para traçar um panorama geral", avalia.
De janeiro a fevereiro deste ano, as exportações de veículos produzidos no Brasil caíram 24% sobre o mesmo período de 2013, para 51,6 mil unidades, segundo a Anfavea. Para o acumulado do primeiro trimestre, a Tendências projeta o mesmo nível de queda. De janeiro a março, as vendas externas devem somar 80 mil unidades, uma redução de 24% em relação a igual período do ano passado. "Certamente, a participação da Argentina nas exportações brasileiras deverá diminuir", pondera Baggi.
O share do país vizinho nas exportações brasileiras cresceu vertiginosamente desde 2002, passando de cerca de 10% para 87% no ano passado. "Este crescimento só mostra como a falta de competitividade da indústria brasileira vem aumentando", diz o analista. Segundo Baggi, o País perdeu espaço principalmente para México e nações asiáticas, que emergiram como grandes exportadores globais do setor.
O analista acredita que será difícil para o Brasil conseguir redirecionar as suas exportações no curto prazo, uma vez que a maioria esmagadora dos embarques é destinada à Argentina. "O País depende de outras variáveis macroeconômicas para exportar mais", diz.
Para se ter uma ideia, o programa de incentivos da Anfavea, o Exportar-Auto, visa atingir um milhão de veículos exportados em 2017. Porém, esta meta tem se mostrado um grande desafio para as montadoras instaladas aqui. Em 2012, o Brasil exportou 445,2 mil unidades, queda de 20% em relação ao ano anterior. Já em 2013, a indústria conseguiu recuperar os níveis de 2011, para cerca de 566 mil veículos.
Mas com a crise argentina, os patamares voltaram a cair. Em entrevista recente ao DCI, o presidente da Anfavea afirmou que "confia em um acordo próximo com a Argentina". Moan destacou que o país vizinho é altamente dependente do comércio com o Brasil. Segundo o executivo, em 2013, a Argentina exportou menos em volumes (380 mil veículos) para cá e mais em valores (US$ 7,1 bilhões contra US$ 6,7 bilhões daqui). "A linha produzida lá é de maior valor agregado", explica Moan, que reforça. "Há uma dependência mútua entre os dois países e a melhor solução para ambos é manter esta cooperação", destaca Moan.
Porém, segundo o analista da Tendências, a situação das exportações brasileiras não depende somente de um desfecho favorável para o Brasil no que tange às restrições argentinas. "O país enfrenta intensa retração da atividade econômica e perda de divisas. Certamente, a demanda por automóveis deve ser sensivelmente afetada, o que prejudica muito a indústria daqui", pondera Baggi.
Com as vendas no mercado doméstico em trajetória de queda, a solução encontrada pelas montadoras para escoar os seus volumes de produção precisará ser revista. Isso porque, segundo analistas, dificilmente o País deixará de depender da Argentina no curto e médio prazo.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria
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