O mercado interno
vai absorver o excedente de oferta durante as festas de final de ano e
"amenizar" o efeito gerado pelo embargo de seis países à exportação de carne
bovina do Brasil, após suposta ocorrência de um caso atípico de "vaca louca"
numa rês em 2010.
No período de
festas, o consumo nacional do produto costuma ter alta de 20% em relação à média
do ano, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). "Porém,
isso é pontual. Em janeiro já deve haver problema de oferta, se mantidos os
embargos", pondera o presidente da entidade, Péricles Salazar.
O governo
brasileiro realiza hoje uma "reunião informativa", em Genebra, na Suíça, para
representantes de 150 países, a fim de esclarecimento em relação ao caso
"atípico" de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) - conhecido por mal da vaca
louca - encontrado no Paraná em 2010 e publicado na semana passada.
Após China e África
do Sul terem embargado o produto brasileiro na quinta-feira (13), Japão, Arábia
Saudita e Egito seguiram o exemplo - este último, somente contra a carne
paranaense. Ontem, foi a vez da Coreia do Sul. Juntos, os países respondem por
13,5% do volume de carne bovina embarcado pelo País de janeiro a setembro deste
ano, ou 899,8 milhões toneladas, de acordo com a Abrafrigo.
"No início, os
embargos não trariam impacto. Agora, os últimos, como o da Arábia Saudita, vão
trazer prejuízos, sim", disse o diretor de Comércio Exterior da associação,
Thomas Kim.
Para o especialista
Hyberville Neto, da consultoria Scott, no entanto, "no final do ano já temos as
exportações em ritmo mais calmo. Ou seja, nesse período, já somos menos
dependentes de exportações".
Essa menor
dependência externa já pôde ser sentida em novembro, quando os embarques caíram
17,8%, para 147,9 mil toneladas (equivalente-carcaça, ou tec), em relação ao mês
anterior - ainda que tenha crescido 14% na comparação anual.
"Questão
diplomática"
A despeito de
opiniões que possam levar a crer que os embargos são medidas de protecionismo
econômico, não sanitário, o governo concentrou os esforços para resolver a
questão - tida como um "momento diplomático" - no âmbito do Ministério da
Agricultura (Mapa).
Protocolarmente, a
pasta enviou missões aos países que embargaram a mercadoria brasileira, com a
premissa de esclarecimento. O principal argumento é de que a proteína de EEB
encontrada há dois anos jamais teve reincidência ou paralelos em território
nacional.
Além disso, o País
obteve neste ano o status sanitário de "risco insignificante" em relação à
doença, concedido pela Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE, na sigla em
inglês).
Para o economista
Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, a perda de dinamismo da economia
global, em função da crise financeira de 2008, leva países a protegerem seus
mercados internos, em momentos de excedente de oferta (como o atual), contra as
importações.
Em boletim
opinativo enviado à imprensa, Silveira diz que "a pecuária brasileira é um dos
setores que hoje 'pagam o pato'". Segundo ele, "daqui para a frente é
fundamental, entre outras ações, que a habilidade da diplomacia brasileira seja
colocada em campo. Afinal, trata-se de impedir que o preço dessas carnes seja
aviltado nos próximos meses".
Salazar, da
Abrafrigo, prevê excesso de oferta de boi, queda generalizada das cotações da
carne e tendência ao descarte de matrizes em 2013, com prejuízo aos pecuaristas,
caso os embargos recém-impostos continuem.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria
Nenhum comentário:
Postar um comentário