A demanda mundial
baixa, em função da crise econômica, está minimizando os benefícios que a
valorização do dólar poderia ter sobre as exportações brasileiras e as receitas
das empresas com o comércio internacional. Apesar de a moeda norte-americana ter
fechado julho na casa dos R$ 2, diante de uma cotação de R$ 1,8 no começo deste
ano e de R$ 1,5 em julho de 2011, a exportação brasileira recuou 10% no
acumulado deste ano até o final do último mês.
"Com a demanda
menor, os preços de alguns produtos, como minérios e alguns grãos, estão caindo.
Isso neutraliza o efeito do câmbio", afirma Luís Filipe Rossi, professor de
Economia e Finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) e da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
O economista e
integrante do grupo de pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento,
Luciano D'Agostini, também não acredita que a atual cotação tenha trazido
benefícios para as empresas exportadoras, já que a taxa real de câmbio não é tão
favorável assim ao Brasil. A taxa nominal é o preço da moeda estrangeira em
relação à nacional, mas a taxa real leva em conta também a inflação nos dois
países envolvidos na transação.
"Nossa inflação
ainda é elevada se comparada a de outras economias, apesar de estar dentro da
meta. Precisaria estar em 3% a 4% [ao ano]", afirma D'Agostini. O IPCA dos
últimos 12 meses ficou em 5,2%. A taxa real é importante porque ela representa a
real capacidade de compra das empresas brasileiras.
Claro que há algum
benefício para os exportadores com a valorização do dólar em relação a períodos
em que a moeda esteve depreciada. Mas sem um cenário de crise e demanda baixa,
porém, os exportadores poderiam viver um momento muito melhor.
Rossi afirma que
está ocorrendo recuperação econômica nos Estados Unidos, mas o problema, segundo
ele, é a Europa e as importações menores da China. Apesar dos EUA serem o
segundo maior mercado internacional do Brasil, individualmente, a Europa como um
todo tem mais peso na balança comercial brasileira do que os norte-americanos.
Rossi acredita na recuperação da Europa só no médio prazo.
Por outro lado, a
competitividade das exportações pode ficar maior com uma nova queda na taxa de
juros. O recuo dos juros torna o mercado brasileiro menos atrativo para
investidores de fora, o que diminui a entrada de dólares no País e pressiona
para cima a cotação da moeda norte-americana. Atualmente a Selic, taxa básica
dos juros do Brasil, está em 8% ao ano. D'Agostini acredita que ela pode ser
reduzida para 7% até o final deste ano.
Uma taxa menor de
juros, além de impacto no câmbio, favorece os investimentos das empresas
brasileiras e lhes permite atender com mais competitividade o mercado interno e
externo. D'Agostini afirma que para a melhora das exportações, no entanto, é
importante que haja reforma estrutural no Brasil, com redução de tributos, mais
produtividade do trabalho pela capacitação dos trabalhadores e melhorias na
logística.
Na
contramão
Apesar da queda das
exportações brasileiras como um todo no acumulado deste ano, algumas empresas
tiveram aumento de receitas com o comércio internacional no segundo trimestre.
Entre elas estão companhias que trabalham com mercados emergentes, como os
países árabes, e que não estão vivendo a crise como a Europa ou Estados Unidos.
O Frigorífico Minerva, por exemplo, teve crescimento de faturamento de 25% com o
mercado externo em reais, no segundo trimestre de 2012 sobre o mesmo período de
2011, diante de um avanço menor, de 16%, na receita bruta como um todo.
Também a Randon,
que vende pra o mundo árabe, aumentou em 22% a receita com exportação, apesar da
queda de 18% na receita total no segundo trimestre do ano. O faturamento da BR
Foods com vendas internacionais cresceu 11% no trimestre, enquanto a receita com
o mercado interno avançou apenas 7%. O Oriente Médio respondeu por 35,2% das
exportações da fabricante de alimentos. Em seus balanços todas as companhias
citadas atribuem parte dos avanços com exportação à valorização do dólar.
Fonte: Agência Anba
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