O café
desvalorizou-se no mercado internacional, cotado na Bolsa de Nova York, perdendo
preço também no Brasil. A variação negativa de 10%, averiguada no tipo arábica,
na última semana, foi resultado de fatores climáticos.
Depois de um
período prolongado de chuvas nas principais regiões produtoras do País, que é o
maior fornecedor mundial, os cafeicultores intensificaram, entre fim de julho e
início de agosto, a colheita do grão.
A retomada da
oferta fez cair os preços, de acordo com especialistas. Porém, como houve perda
de qualidade, criou-se uma situação propícia à valorização do produto daqui a um
mês, quando o grosso da safra estiver no varejo.
"As chuvas causaram
prejuízo na qualidade do café. Para que isso não seja transferido ao consumidor,
a indústria combina grãos de alta e baixa qualidade, fazendo um blend. O que, ao
longo do tempo, pode provocar uma reação de preço", analisa o diretor-executivo
da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Natan Herszkowicz.
Por ora,
entretanto, as negociações em torno do grão apresentam queda: a saca (60
quilos), cotada a mais de US$ 200 durante o ano passado, variava em torno de US$
180, em Nova York, na última semana, segundo dados do Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
"Em 2011, devido
aos efeitos da bianualidade, a produção brasileira era muito menor", explica a
analista de Café Caroline Lorenzi, do mesmo instituto. "O principal motivo [para
a baixa atual] é o clima favorável à colheita no Brasil, desde o final de
julho", afirma.
Em tal cenário, os
cafeicultores costumam segurar a oferta à espera de uma reação de preço, segundo
Herszkowicz. Portanto, a desvalorização não deve se refletir, a curto prazo, no
mercado final. "A indústria continua comprando o café pelos mesmos preços de
antes da baixa, então não há repasse", ele diz.
Perda de tempo e
qualidade
A maior organização
de café do mundo, a Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé),
de Minas Gerais, registrou em seu último relatório, na semana passada, que 69%
da área plantada já foram colhidos. No ano passado, a essa mesmo época do ano,
os doze mil cooperados da empresa já haviam retirado da terra 80% do grão.
"[Os produtores do]
sul de Minas, Cerrado Mineiro e Vale do Rio Pardo continuam empenhando todos os
esforços para aproximar os números de colheita deste ano, atrasada por causa das
chuvas, em relação aos anos anteriores", relatou, em nota, a cooperativa.
Em recente
entrevista ao DCI, o porta-voz da Cooxupé, Jorge Florêncio, afirmou que "o
cafeicultor vai perder receita", em função do atraso na colheita. A Cooperativa
dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel), também mineira, teve 30% da
produção afetados pelo clima - o café caiu no chão, perdendo qualidade e
correndo risco de não ser colhido.
O nível de "café
bom" produzido pela Cooxupé deverá cair de 85% para 65%, em médias, na safra
atual, de acordo com Florêncio. Exposto à chuva, o grão escurece, adquirindo
aspecto ruim, e fermenta precocemente, tornando a bebida pior.
A cooperativa deve
produzir 5,5 milhões de sacas, conforme a projeção inicial, neste ano. O volume
representa aproximadamente um quinto da produção brasileira estimada pela
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab): 50 milhões de sacas.
"O produtor está
correndo para colher o café do pé", havia dito um líder de cooperativa.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria
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