O Estado de S.Paulo
03 Agosto 2017 | 03h07
O Brasil vai bem no comércio exterior, com superávit de US$ 42,5 bilhões no período de janeiro a julho, um recorde, e boas possibilidades de encerrar o ano com um saldo positivo de R$ 60 bilhões. Também recorde – para o mês – foi o excedente de julho, quando as exportações superaram as importações por US$ 6,3 bilhões. A conta comercial tende a melhorar quando a atividade interna é baixa e o desemprego é alto, principalmente por causa da redução das compras de bens estrangeiros. Mas o caso brasileiro é diferente e muito mais promissor. O valor exportado este ano, de US$ 126,5 bilhões, foi 18,7% maior que o de janeiro a julho de 2016. O importado, de US$ 83,96 bilhões, foi 7,2% superior ao de um ano antes. As vendas e compras de mercadorias tanto refletem como alimentam a incipiente recuperação da economia – e isso é um dos aspectos mais animadores desses números. Mas outros bons sinais são descobertos quando se examinam detalhes bem menos vistosos.
A crescente importância da indústria no comércio exterior é um desses detalhes. A participação industrial é ofuscada, à primeira vista, pela excelente evolução das exportações de produtos básicos. Os US$ 60,8 bilhões proporcionados pela venda desses produtos – valor 26% maior que o de um ano antes – corresponderam a 48,1% da receita comercial de sete meses. A participação havia sido de 45,3% um ano antes. Esse avanço resultou em parte do aumento do volume embarcado e em parte do aumento de preços. Muito menos beneficiada pelos preços, a indústria faturou com manufaturados e semimanufaturados R$ 62,7 bilhões, 12% mais que nos meses correspondentes de 2016.
As vendas de semimanufaturados aumentaram 16,1% de um ano para outro, para US$ 17,7 bilhões, enquanto as de manufaturados atingiram US$ 45 bilhões, com avanço de 10,5%. A participação dos manufaturados diminuiu de 40,2% para 39,4%, mas seria um erro entender essa variação como um enfraquecimento comercial do setor. A redistribuição dos pesos é explicável pelo grande aumento da receita obtida com os básicos, em parte resultante da alta das cotações.
A indústria automobilística liderou as vendas de manufaturados, com faturamento de US$ 3,79 bilhões, ou 54,9% maior que o de janeiro a julho do ano passado. Veículos de carga, autopeças, máquinas para terraplenagem, motores e partes e tratores também aparecem no grupo das 15 maiores fontes de receitas, confirmando a importância do comércio exterior para a recuperação do setor automobilístico. Aviões ainda ficaram em segundo lugar, com faturamento de US$ 1,97 bilhão, apesar da redução de 5% no valor vendido. A indústria aeronáutica mantém-se em posição especial, há muitos anos, como um dos segmentos mais competitivos do segmento de manufaturados, no Brasil.
O avanço comercial da indústria de transformação é mostrado em mais detalhes numa análise publicada pelo Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O intercâmbio de bens industriais ainda foi deficitário no primeiro semestre. Mas o déficit acumulado diminuiu sensivelmente, de US$ 2,8 bilhões para US$ 1,2 bilhão. Isso resultou basicamente do desempenho no segundo trimestre, quando as vendas atingiram US$ 33 bilhões, superando ligeiramente as importações (US$ 31,8 bilhões). A divisão por grupos, com base na intensidade tecnológica, mostrou desempenhos diferenciados, com superávits concentrados nos segmentos de média-baixa e de baixa intensidade. Neste último, o saldo no segundo trimestre foi de US$ 10,5 bilhões, graças, principalmente, às vendas de alimentos, bebidas e fumo.
Nos dois primeiros grupos, de alta e de média-alta intensidades, os destaques ficam para uns poucos segmentos. No primeiro, o único superavitário é o da indústria aeronáutica. No segundo, o setor automobilístico mantém a liderança.
Durante os 13 anos de petismo, questões de competitividade foram negligenciadas, enquanto se distribuíram centenas de bilhões a grupos favoritos da corte. Há, agora, uma oportunidade de mudança.
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